Histórias para adultos

      Por que não? Ouvir histórias no nosso "mundo moderno" é algo diretamente associado com o universo infantil, mas nem sempre foi assim. Não somos todos humanos? Não sonhamos e criamos e imaginamos nós também?
      O Núcleo Prosa de Janela nasceu contando histórias para adultos, e achamos que talvez seja esse o público mais carente de histórias, de espaços de liberdade e imaginação.
      Nosso primeiro espetáculo foi "Belazarte me contou...", a partir de contos de Mário de Andrade. Em breve teremos outros. E outros, e outros... 





Vídeo de apresentação de "Belazarte me contou..."

 “Belazarte me contou... ” é um espetáculo de contação de histórias composto por dois contos do livro “Contos de Belazarte” de Mário de Andrade e foi criado a partir de um projeto aprovado pelo edital “Proac- Difusão de Literatura“ da Secretaria do Estado de Cultura. Estreou em março de 2012 e circulou por escolas da rede pública de ensino.
      Os contos escolhidos possuem narrativas de extrema potência que fazem um recorte sobre a São Paulo do início do século XX, ainda em processo de urbanização, com histórias que acontecem em bairros operários. Apesar de distantes no tempo, são narrativas que fotografam muito bem um ambiente urbano já degradado naquela época, com muitas características do que viria a ser a cidade hoje.
     O espetáculo é composto por duas histórias, com cerca de vinte e cinco minutos cada. A primeira “Caim, Caim e o resto” conta a história de dois irmãos que passam a se odiar e brigar de um dia para o outro, sem motivo aparente e que terminam por causar uma tragédia. O segundo conto, “Jaburu Malandro”, narra a história de uma filha de italianos da Lapa que se apaixona por um artista de circo.
     O elemento mais forte da narrativa de Mário de Andrade, que é o eixo condutor e o foco desta Contação, é a linguagem, que cria um ambiente perfeito da cidade de São Paulo da primeira metade doséculo XX, um ambiente cotidiano, popular, que caracteriza a formação étnica e as origens culturais desta métropole. É uma linguagem que aparenta ser muito simples, de fácil compreensão, mas sob um olhar mais atento se vê que é extremamente elaborada, tecida com minúcias de artesão. Nesta Contação cria-se este clima de diálogo cotidiano, de fofoca, de causo, valorizando o texto do autor.
     Para este projeto escolhemos a obra de Mário de Andrade , pois, além de ser uma obra literária de valor incontestável, ela dialoga com o desejo de realizar um projeto de democratização da arte e de reconhecimento de identidade coletiva, pelo seu conteúdo, pela pesquisa de linguagem e pela própria vida pública do autor. Mário de Andrade foi um grande pesquisador, literato e também atuou de forma muito intensa no pensamento e na criação de políticas públicas para a cultura, principalmente na cidade de São Paulo. Teve sempre uma grande responsabilidade com o patrimônio cultural a que teve acesso e fez questão de tornar pública grande parte de sua pesquisa.  Ao desempenhar a função de diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo criou as Casas de Cultura, projeto existente ainda hoje, idealizou o SPHAN ( Serviço
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ) em 1939, entre outras ações de pesquisa e difusão cultural. Ao realizar essas ações, Mario de Andrade claramente retomava e dava consequências mais efetivas aos ideais modernistas, às discussões sobre a identidade nacional, contando para o Brasil coisas sobre o Brasil que se encontravam à margem e deslegitimadas.
      Essa responsabilidade com o patrimônio público, esse pensamento sobre tornar disponível a todos aquilo que já é ou deveria ser do povo, e o grande empenho em criar uma obra autenticamente brasileira, não apenas no conteúdo, mas principalmente na linguagem, fez com que escolhêssemos sua obra para criar este espetáculo.

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